Várzea Paulista intensifica diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista

Município se antecipa às novas diretrizes do Ministério da Saúde e capacita equipes das Unidades Básicas para identificação precoce e cuidado contínuo de crianças com TEA

Várzea Paulista vem se destacando no cenário da saúde pública por desenvolver um trabalho pioneiro de diagnóstico e acompanhamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro da Atenção Primária à Saúde (APS). Nos últimos seis meses, a Unidade Gestora de Saúde do município implantou um processo de mapeamento e formação profissional que antecipa as diretrizes do Ministério da Saúde, reforçando o papel da APS como porta de entrada do cuidado e da identificação precoce de casos.

A análise realizada pelas equipes municipais identificou 648 pacientes em acompanhamento, sendo 174 com perfil compatível com TEA. Dentre esses, 76,4% — cerca de 133 crianças — ainda não possuem laudo diagnóstico formal, o que evidencia a importância de a rede municipal se estruturar para oferecer avaliação, encaminhamento e seguimento clínico de maneira integrada. O levantamento também mostrou que cerca de 30% dos casos apresentam Deficiência Intelectual associada, reforçando a necessidade de um olhar ampliado e multiprofissional sobre cada criança e sua família.

O processo de análise tem início nas consultas de rotina realizadas nas UBS, tanto com pediatras quanto com enfermeiros e demais profissionais das equipes de Saúde da Família. Durante esses atendimentos, os servidores são orientados a observar sinais de atraso no desenvolvimento e no comportamento infantil que possam indicar o TEA. Quando há suspeita, o caso é registrado e encaminhado para avaliação complementar, de acordo com o protocolo municipal em construção.

Atenção Primária e Capacitação

A Atenção Primária é o primeiro nível de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS). É nesse espaço que o cuidado começa, com foco na prevenção, no diagnóstico precoce e no acompanhamento contínuo das pessoas e famílias. Em Várzea Paulista, a APS funciona por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), que atendem a população de cada território e trabalham de forma integrada com outras áreas, como Educação e Assistência Social.

Todas as Unidades Básicas de Saúde do município participam da iniciativa. Desde o início do trabalho, há cerca de seis meses, foram promovidas capacitações teóricas e práticas voltadas à detecção precoce do autismo, aos fluxos de encaminhamento e ao acompanhamento das famílias. Participaram dos treinamentos médicos, enfermeiros e coordenadores de toda a rede de saúde, o que permitiu padronizar procedimentos e fortalecer a atuação das equipes da Atenção Primária.

Segundo a gestora executiva da APS, Elaine Aguiar, essa reorganização representa uma verdadeira transformação no modo de cuidar das crianças. “Estamos estruturando a rede para que o diagnóstico e o acompanhamento do autismo aconteçam desde a Atenção Primária. Isso evita que as famílias fiquem perdidas entre serviços, reduz filas e aproxima o cuidado do território. É um avanço que coloca Várzea Paulista em sintonia com o que o Ministério da Saúde vem desenhando para o país”, destaca.

Suporte as famílias

Após a confirmação do diagnóstico, as crianças passam a ser acompanhadas de forma contínua pela equipe da Atenção Primária, que realiza o seguimento clínico, orienta a família e coordena o cuidado junto à Rede de Atenção Psicossocial e demais serviços especializados. Esse modelo garante que as famílias encontrem apoio e acompanhamento próximos, fortalecendo o vínculo entre usuário e serviço de saúde.

Para a gestora municipal de Saúde, Maria Malta, o diagnóstico é apenas o primeiro passo de uma caminhada que deve ser feita com sensibilidade e continuidade. “O diagnóstico do autismo é o início de uma caminhada de cuidado, não o fim. Nosso compromisso é garantir que as famílias encontrem suporte desde a porta de entrada da saúde. Várzea Paulista está se antecipando a uma mudança nacional e mostrando que é possível oferecer acolhimento, diagnóstico e acompanhamento com qualidade e humanização”, afirma.

A partir do levantamento técnico, o município está construindo um protocolo local de atendimento e acompanhamento de pessoas com TEA, com foco na capacitação contínua das equipes da APS, na padronização dos fluxos de diagnóstico e contrarreferência, na integração com as redes de Educação e Assistência Social e no registro informatizado dos casos.