Plenária discute políticas públicas para comunidade LGBTTS

Direitos, cidadania e violência foram os principais temas abordados no encontro

Na noite desta terça-feira (28), foi realizada a 1ª Plenária LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Simpatizantes) de Várzea Paulista para discutir as políticas públicas direcionadas a este grupo na cidade. O evento aconteceu no Espaço Cidadania e faz parte do Plano Várzea 2022, que leva em consideração o planejamento da cidade a curto, médio e longo prazo, agregando ideias e sugestões dos moradores varzinos por meio de Conferências Municipais e do Orçamento Participativo.

A mesa de abertura contou a presença do prefeito Eduardo Tadeu Pereira, dos secretários Luciano Braz Marques, Luis Fernando Tofani  e Giany Povoa, representando a Educação, Saúde, e Desenvolvimento Social, respectivamente; e do representante regional do movimento LGBTTS, Everson Arantes.

As discussões realizadas em plenária abordaram  assuntos referentes aos direitos reservados ao público homossexual, cidadania e violência.

O prefeito Eduardo afirmou em seu discurso que o Governo Municipal não tem medido esforços para que os assuntos relevantes para a sociedade sejam debatidos. “A Secretaria de Desenvolvimento Social tem sido a chave para o crescimento da cidadania em nossa cidade. Temos feito o esforço de debater com cada pessoa o que queremos para Várzea Paulista nos próximos anos.”

Eduardo salientou também que a ideia é que cada um dos setores sociais e socioeconômicos se mobilizem para pensar no futuro da cidade daqui a dez anos, como é proposta do Plano Várzea 2022.  “Com as Conferências que vêm sendo realizadas no município, queremos estimular a participação das pessoas no governo. Só participando é que podemos crescer e desenvolver a cidade. Queremos participação e cidadania”, afirmou reforçando que a Plenária é um marco e que deve ser levada adiante.

A secretária de Desenvolvimento Social, Giany Povoa, afirmou que o dia era de comemoração. “Hoje é um dia de festa em que inauguramos mais um espaço de diálogos e mais uma oportunidade de pensarmos na cidade que queremos no futuro. Desejamos que as pessoas possam caminhar juntas, de mãos dadas para a construção de uma cidade melhor”.

O secretário de Saúde, Luis Fernando Tofani, destacou que o município vive um momento histórico. “Essa reunião foi convocada pelo governo. Normalmente o caminho é contrário, já que os representantes dos grupos costumam  procurar o poder público. Inclusão e cidadania são pontos importantes da nossa gestão e essa iniciativa é inédita.”

O secretário de Educação, Cultura, Esportes e Lazer, Luciano Braz Marques, disse que esse é um momento para uma reflexão ainda maior sobre a questão dos homossexuais. “A Prefeitura tem provocado debates e este é o momento para externá-los para a sociedade. Essa não é uma simples conversa. Precisamos superar o preconceito. Para que os direitos sejam legítimos, todos devem pensar na construção de políticas públicas”, avalia.

Propostas

As propostas apresentadas pela sociedade LGBTTS da cidade foram: a criação de um núcleo para estudos das questões que envolvem o grupo, bem como a criação de um Centro de Referência de Assistência à esta comunidade.

Os representantes sugeriram políticas de empregabilidade, de conscientização de direitos e cidadania e também educacionais. Manifestaram interesse em cursos profissionalizantes, em especial às profissionais do sexo.

O movimento deseja também que servidores públicos estejam capacitados para trabalhar com as questões ligadas ao grupo nos diversos setores. Assim, solicitaram a capacitação de servidores na área de educação, para que possam detectar bullying homofóbico e preparação dos professores para lidar com o desrespeito, preconceito e discriminação que os homossexuais sofrem na comunidade. Eles estenderam o pedido também para as áreas de Segurança Pública e Saúde, para que possam também trabalhar neste sentido de inserir o individuo na sociedade como cidadão.

O grupo também apresentou o desejo da inclusão de um dia municipal do orgulho gay no calendário da cidade, mas não apresentaram data definida.

O relatório da Plenária foi redigido e a viabilidade de cumpri-lo será avaliada no Conselho da Cidade em novembro, que reunirá as propostas das Conferências que estão sendo realizadas no município, como parte do Projeto Várzea 2022.

Pioneirismo

O representante regional do movimento GLBTT, Everson Arantes considera iniciativa da Prefeitura louvável. “Temos que louvar a atitude, pois essa Prefeitura  é primeira que abre um espaço para uma plenária e esse é um grande passo para a cidadania do público LGBTTS”, afirma ele, que acredita que o grupo vive o melhor momento com apoio do governo municipal e também federal, com as propostas da presidente Dilma Rousseff  para o segmento.

Everson defende a ideia de se firmar políticas afirmativas, pois, na opinião dele, é uma forma de dar continuidade ao ideal defendido pelo grupo LGBTTS ao longo do ano. “A parada gay tem grande visibilidade e é uma das alternativas ainda. Mas ter políticas públicas é uma forma de lutar pelos direitos nos outros 364 dias do ano.”

Preconceito

Everson afirmou que os homossexuais sofrem preconceito na sociedade. “Eu sou gay e para a grande maioria da população brasileira, sou considerado como subclasse. Meu direito acaba onde começa o direito do outro. Sofremos preconceito a vida inteira. Na infância e na adolescência. Venho da geração dos anos 80, onde AIDS era considerada uma peste gay”, desabafa.

Ele relatou também que quando adolescente, muitas vezes foi alvo de violência por parte de colegas. “Eu apanhava, mas chegava em casa feliz porque lutava por meus direitos. Saindo daqui, devemos debater com família e amigos, não é só aqui que precisamos dialogar”, defendeu.

A travesti Leona Ferraz sofreu o preconceito e violência social ainda enquanto criança. Ela disse também que conhece muitos travestis que estão na rua e que são exploradas. “Para travesti só encontram duas alternativas, ou é cabeleireira ou é profissional do sexo. Eu não quero mais vender meu corpo, meu psicológico está abalado”, confidenciou.

A adolescente Maria Fabiana da Silva, 17, participou da plenária. “Estou aqui por minha opção sexual. Temos que unir todos. A homofobia está aí como a novela está mostrando e temos que combater o preconceito”. Ela conta também que a família se preocupa com sua integridade física. “Minha mãe aceitou minha homossexualidade e ela se preocupa com o preconceito da sociedade e com a violência que podem praticar contra mim”, revela.