Compondo a agenda de atividades dos 16 dias de ativismo pela não violência contra a mulher, aconteceu nesta segunda-feira (6), em Várzea Paulista, o encontro “Homens pelo fim da violência contra a mulher”, com a participação de Sergio Barbosa, coordenador dos Grupos Reflexivos de Homens Autores de Violência do Instituto Pró-Mulher, Família e Cidadania. O evento foi promovido para celebrar a Campanha do Laço Branco, que tem o objetivo de sensibilizar, envolver e mobilizar os homens no engajamento pelo fim desse tipo de prática.
A Campanha do Laço Branco surgiu depois que, no dia 6 de dezembro de 1989, um rapaz de 25 anos invadiu uma sala de aula da Escola Politécnica, na cidade de Monteral, Canadá. Ele ordenou que os homens se retirassem da sala, permanecendo somente as mulheres e gritou “vocês são todas feministas?”. Esse homem começou a atirar enfurecidamente e assassinou 14 mulheres, à queima roupa. Em seguida, suicidou-se. O rapaz deixou uma carta na qual afirmava que havia feito aquilo porque não suportava a ideia de ver mulheres estudando engenharia, um curso tradicionalmente dirigido ao público masculino.
O crime mobilizou a opinião pública, gerando amplo debate sobre as desigualdades entre homens e mulheres e a violência gerada por esse desequilíbrio social. Assim, um grupo de homens do Canadá decidiu se organizar para dizer que existem homens que cometem a violência contra a mulher, mas existem também aqueles que repudiam essa atitude. Eles elegeram o laço branco como símbolo e adotaram como lema: jamais cometer um ato violento contra as mulheres e não fechar os olhos frente a essa violência.
Em Várzea Paulista a data é celebrada todos os anos com a realização de debates na Câmara Municipal. Neste ano, foi realizada também a exibição do documentário ‘À Sombra da Violência’ – Um olhar sobre a violência contra a mulher’, que exibe depoimentos de vítimas de violência, praticantes e especialistas no assunto.
De acordo com Lula Raniero, vice prefeito de Várzea Paulista, o governo municipal tem se empenhado para avançar neste quadro de combate à violência contra a mulher. “Criamos o Núcleo de Políticas Públicas para as Mulheres e já estamos construindo o Centro de Referência, que será um local especializado para acolher as vítimas”, diz. Para ele, o combate a essa prática depende da mobilização de cada um. “O simples fato de rirmos ou reproduzirmos piadas machistas já representa um incentivo à violência contra a mulher”, avalia.
Segundo Giany Povoa, secretária de Cidadania e Desenvolvimento Social, o objetivo do evento é entender melhor de que forma a violência acontece na sociedade. “Queremos que as pessoas saiam daqui com novas formas de ver e entender a violência contra a mulher. Somente neste ano, seis mulheres foram vítimas fatais aqui na cidade e nós queremos dar um basta nisso”, afirma.
O vereador Mauro Batista ressaltou a importância de debater o tema. “Desde 2005, esse governo esse governo vem discutindo temas necessários e bastante polêmicos, no sentido de garantir os direitos humanos e, como representante da Câmara, afirmo que queremos estar junto nessas discussões. Com esses debates, o poder público está avançando bastante nesta questão, mas é preciso que todos os outros segmentos sejam sensibilizados, para acompanhar esse progresso”, diz.
Debate
Sérgio Barbosa, coordenador dos Grupos Reflexivos de Homens Autores de Violência Contra a Mulher do Instituto Pró-Mulher, comandou o debate da Campanha do Laço Branco. Ele coordena um grupo de homens que praticaram violência mulheres, encaminhados pela justiça. De acordo com ele, a violência vem do exercício de uma função patriarcal atribuída ao homem. “É muito comum nas famílias, na hora das refeições, os homens ficarem com o melhor ou o maior pedaço de carne, por exemplo. Isso vira um costume. Aí, quando uma mulher acha que tem o direito de exigir o melhor, ela certamente será agredida de alguma forma”, exemplifica.
De acordo com ele, é necessário promover uma desconstrução cultural dos homens, para que eles deixem a função patriarcal que lhes é atribuída pelo modelo social desigual vigente. “Não se nasce assim. Esses valores se adquirem na educação, no convívio, sem perceber. Por isso é necessária essa desconstrução”.
Segundo Sérgio, não há predominância de determinada classe social entre os homens que ele atende. São empresários, pedreiros, lojistas, mecânicos, entre outras ocupações. “No início, todos resistem e negam a violência. Depois do oitavo encontro que eles passam admitir”, revela.
Porém, após a passagem pelos grupos, a reincidência é mínima. De acordo com Sérgio, de 59 casos já abordados, apenas um voltou a agredir a companheira. “Tratar o homem dessa forma é uma das soluções mais eficazes. Não adianta prestar serviços à comunidade, como era feito antes. Doar cesta básica não faz ninguém refletir sobre a violência que pratica”, finaliza.