Encontro de trançadeiras reúne 2.500 pessoas em Várzea

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Em sua terceira edição, evento teve como objetivo evidenciar a tradição dos trançados

Neste final de semana, Várzea Paulista recebeu mais uma edição do ‘Trançando Arte’. A Prefeitura apóia o evento pelo terceiro ano consecutivo. A iniciativa tem o objetivo de valorizar as tranças e dreads, por meio do fortalecimento da luta e da resistência negra. O encontro, realizado no Espaço Cidadania, reuniu visitantes e trançadeiras de diversas regiões do país, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará. Com o tema “África 2010 – Copa do Mundo”, a terceira edição do Trançando Arte contou com o simpósio “A beleza negra e sua autoestima, construindo um mundo solidário e de paz”.

Para o prefeito Eduardo Pereira, sediar o evento trata-se de uma oportunidade para evidenciar a arte e a beleza dos trançados na região e, também, no Brasil: “Para nós é um prazer receber e apoiar essa iniciativa, pois, desta forma, Várzea Paulista também contribui para a reconstrução da identidade brasileira”, avalia.

O simpósio foi ministrado por Byany Sanches, trançadeira de Belém do Pará. Militante do Movimento Negro, a palestrante explica que o intuito é conscientizar a população sobre a necessidade de preservar os traços negros, impedindo a mutilação cultural. “Para passar em uma entrevista de emprego nos dias de hoje, por exemplo, a negra precisa alisar os cabelos e usar maquiagem para afinar o nariz. Isso é errado. Por isso, queremos afirmar a negritude, fazendo com que ela entenda que não é correto deixar as origens e modificar suas raízes para ser aceito na sociedade”, diz.

Negritude e estilo

A funcionária pública Tereza Cristina participou pela segunda vez do Trançando Arte e conta que, em ano de Copa, a torcida pela seleção canarinho fez a sua cabeça. “Optei pelo dread de linha para torcer pelo Brasil durante o Mundial. Serão boas energias para o Hexa”, afirma. Para Mariana Nunes, auxiliar visual e merchandising,  o evento é uma forma de mostrar a cultura das tranças, cuja técnica cria a identidade visual e proporciona estilo ao negro. “É importante porque mostra que a negritude está no ar. Não somos apenas samba, temos cultura e ela precisa ser respeitada”, opina.

Trançadeira há 40 anos, Margarida de Souza veio do Rio de Janeiro e explica que a técnica também contribui para a saúde capilar: “As negras abusam das químicas e isso a enfraquece como mulher e ainda debilita os fios. Com as tranças há o domínio dos cabelos, já que as linhas em algodão, além de dar cor e estilo ao penteado, também encorpam os fios”. Adalton Luiz de Barros, operador de telemarketing, é veterano no evento e diz que os trançados já são extensões do seu corpo. “Faço isso há 9 anos e no começo era tudo uma questão de beleza. Hoje, o dread e a trança fazem parte de mim e formam o meu próprio estilo”.

Na ocasião, os presentes ainda puderam conferir apresentações do Coral Afro Thulany e das bandas Zambabem, Let’s Groove e Império Z/O, além dos grupos de dança Equipe Black White, Nego Dal Função Black e Desembaraçando Nó. No local também foi montada uma feira para a venda de artigos, como livros, roupas e produtos artesanais diversos. Já a arrecadação da praça de alimentação, com comidas típicas africanas, foi revertida aos grupos assistenciais da cidade. O 3º Trançando Arte teve apoio da Prefeitura de Várzea Paulista, por meio do Núcleo de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com o Salão Função Black, Vanderlei Victorino e o Círculo Palmarino.

Representação nacional

A deputada federal Janete Rocha Pietá (PT-SP) esteve presente no evento e ressaltou a necessidade de valorizar os traços negros. Para a parlamentar, o Brasil tem que tratar com dignidade todo o seu povo, seja ele negro, amarelo ou vermelho. “Nós somos bonitos sim e a sociedade precisa aprender a respeitar qualquer tipo de cabelo”, disse.